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quinta-feira, 5 de junho de 2014

Perfifia (Perfidy)

Perfifia (Perfidy)



Um raro filme boliviano a ganhar festivais de cinema mundo afora. E confesso, é um dos filmes mais instigantes a que vi recentemente. Uma co-produção independente Bolívia-Estados Unidos, o filme narra quase que em tempo real a historia de um assassino de aluguel, que vai até um hotel em Ithaca, Norte de Nova York, a espera de uma ligação que lhe dirá a sua missão. O filme fala sobre o tempo: as cenas são longas, e os diálogos, inexistentes. Acompanhamos o protagonista em sua agonia de esperar o tempo passar. Seria impensável a gente ver uma cena de 10 minutos do personagem cortando seu cabelo e barba, ou 5 minutos dele em cena cortando as unhas das mãos, ou mais 5 minutos do close do rapaz em sua cama, em tensão sexual, ou mais 5 minutos dele andando por uma paisagem coberta de neve, ou na sensacional abertura do filme: 5 minutos vendo uma paisagem e ouvimos uma musica, e só depois a câmera corrige e vemos que é o personagem ouvindo seu ipod. Sào poucos os filmes que fazem isso e o espectador não sai correndo da sala de exibição. Esse é um belo exemplar de filme de arte, nada comercial. O filme é também uma bela história de amor, e depois traição, entre 2 homens. Li que o ator, Gustavo Valenzuela ( o mesmo de "Na cama", cult chileno) ofereceu o projeto para o diretor, que se apaixonou pela história. O filme tem uma cena antológica, que em outras mãos, ficaria trash: o protagonista, de cuecas, começa a cantar uma musica, e usa a sua pistola como microfone. Do nada, o filme se transforma num musical. Anarquia cinematográfica, uma liçao que tivemos que esperar vir da Bolivia, um Pais onde se produz pouquissimo.


perfidia
Crítica
Por mais que se fale em igualdade de gêneros e aceitação da diversidade sexual, o cinema com temática lgbt segue, em sua massiva maioria, sendo uma produção de nicho, voltada quase que exclusivamente aos já iniciados do assunto. Longas como O Segredo de Brokeback Mountain(2005) ou As Horas (2002) continuam raros no cenário internacional, principalmente por tratarem da sexualidade dos seus personagens como algo normal e, a partir dessa realidade, construírem seus dramas. Muito lentamente é que vamos fugindo dos estereótipos, dos escapismos cômicos e dos clichês rasos. Perfídia, produção chilena escrita e dirigida por Rodrigo Bellott – e, infelizmente, ainda inédita no Brasil – é um raro exemplo latino-americano de um bom filme que parte do tema em comum para ir além, ousando na construção de uma jornada cinematográfica ousada e significativa.
perfidia
Repleto de silêncios alternados apenas por uma emocionante e nunca excessiva trilha sonora. Perfidia nos posiciona como observadores privilegiados de uma trajetória aparentemente sem volta. Gus, numa interpretação envolvente de Gonzalo Valenzuela (protagonista de Na Cama de 2005, longa refilmado no Brasil com o titulo Entre Lençóis, 2008, com Reinaldo Gianecchini) - difícil imaginar nosso Giane tomando o lugar do galã chileno também numa versão nacional desta outra trama…), é quem nos conduz por esse caminho tortuoso e de intenções escondidas, reveladas lentamente e com bastante parcimônia. O tom é dado logo de início, com uma sentida versão da canção homônima, enquanto cruzamos campos gelados e distantes. Nosso personagem tem um único objetivo, e para atingi-lo não importa o percurso ou as dificuldades que precisará enfrentar para, enfim, se dar por satisfeito. 

Seu destino é um hotel típico para turistas em férias. Mas não estamos ali para passeio – ao menos não dessa vez. Uma vez alojado no seu quarto, presente e passado vão aos poucos se misturando, ao mesmo tempo em que nosso protagonista vai, com bastante cuidado, se desnudando. Primeiro serão suas roupas, depois a barba, o cabelo. Por fim, a própria alma. Já solto, devaneios, lembranças e alegrias já esvaziadas se manifestarão, até que o momento que todos temiam – e, obviamente, esperavam – se manifesta de forma imperiosa, impedindo qualquer atraso. Na sua cama pode estar um homem, talvez uma mulher, mas tudo isso se foi e não faz mais sentido. O que ele precisa fazer não pode ser adiado, e foram atitudes de ontem que irão decidir hoje o rumos das coisas


perfidia


Ficha técnica completa

Título Perfidy (Original)
Ano produção 2009
Dirigido por Rodrigo Bellott
Estreia 2009 ( Mundial )
Duração 84 minutos
Classificação 16 - Não recomendado para menores de 16 anos
Gênero Drama
Países de Origem Chile


Sinopse

O jovem e misterioso Gus chega a uma cidade onde neva muito, no norte de Nova York, e se hospeda em um hotel. No quarto, ele espera por horas até que recebe uma ligação às quatro horas da madrugada que muda a sua vida. Daí em diante, as coisas não serão mais como antes.






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