Image Map

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Uma Relação Delicada - Abus de faiblesse

Uma Relação Delicada
Abus de faiblesse (original Title)
Abus de faiblesse

Após um derrame, a cineasta Maud precisa enfrentar as limitações físicas do corpo e, ao mesmo tempo, a inevitável solidão da sua vida. Ela se encanta ao ver Vilko em um programa de televisão e, determinada a se aproximar, o convida para atuar em seu próximo filme. Cada vez mais envolvida, Maud começa a bancar as aventuras extravagantes do novo amigo, numa relação conturbada que envolve uma dependência inexplicável.
Abus de faiblesse
Elenco: Isabelle Huppert, Kool Shen, Laurence Ursino, Christophe Sermet

Direção: Catherine Breillat
Gênero: Drama
Duração: 103 min.
Classificação: 12 Anos


Lançamento 22 de maio de 2014 (1h44min)
Dirigido por Catherine Breillat
Com Isabelle Huppert, Kool Shen, Laurence Ursino mais
Gênero Drama
Nacionalidade França

Abus de faiblesse

Jogo de poder
by Bruno Carmelo

Na peça de teatro A Mais Forte, de August Strindberg, duas mulheres encontram-se em um café. As duas são apaixonadas pelo mesmo homem: uma é a esposa, e a outra, a amante. A primeira passa a peça inteira acusando a segunda, agredindo, humilhando. A segunda não diz uma palavra sequer. A pergunta lançada ao espectador é: Quem é a mais forte? Aquela que ataca, ou a outra que aguenta, estoicamente, a agressão? De certa maneira, esta também é a pergunta de Uma Relação Delicada, fascinante jogo de gato e rato entre uma diretora de cinema e seu ator.

Abus de faiblesse
Isabelle Huppert é a maior atriz de cinema em atividade. Eu sei que é patético dizer esse tipo de coisa, e já estou me desculpando por fazê-lo, mas é inegável que só os dez minutos iniciais de “Uma Relação Delicada(Abus de Faiblesse, 2013)”, que está em cartaz há duas ou três semanas no circuito comercial nacional, garantiriam o Oscar de qualquer Sandra Bullock da vida. Além de toda a complexidade do trabalho corporal exigido para este papel(Huppert interpreta uma cineasta que sofre um AVC e fica hemiplégica) que já rende cenas fortíssimas(filmadas com uma crueza que me remeteu ao Haneke de Amour) que valeriam o filme, a personagem ainda tem um nível de agressividade sádica e de necessidade de ostentar uma autossuficiência arrogante que fazem deste papel, cheio de nuances, um prato cheio para a atriz francesa. Huppert já tem todo um histórico de personagens perversas, obsessivas e doentias que lhe rendem atuações memoráveis(já fiz um top dela.



A cena em que ela descreve para o vigarista que acaba de sair da prisão –e que ela decide contratar para estrelar seu filme após vê-lo na televisão e detectar que “ele não possui nenhuma compaixão” – qual será o desfecho do filme que ele irá protagonizar, narrando detalhadamente, com uma feição de deslumbramento e um sorriso perturbador, um crime passional em que o homem mata a sua amante batendo com a cabeça dela na parede do banheiro e “o branco do ladrilho cria um contraste lindo com o vermelho do sangue” , é o tipo de coisa que só poderia mesmo ter sido escrita para ela interpretar.

Adoro o jogo de dominação entre os dois personagens principais. A personagem de Huppert, sua fragilidade física, e sua recusa em assumir essa fragilidade, escondendo-a com uma imagem de fria e impiedosa, mesmo quando já está claro até para ela, que ela está sendo explorada pelo personagem de Kool Shen. E adoro também a brutalidade deste último, que se revela já pela sua feição(viril e agressiva), mas atinge um nível altíssimo, por causa da meticulosidade da construção deste personagem. Acho inclusive, e talvez seja essa seja um interpretação “alternativa” do filme, que o fato deste personagem explorar a personagem de Huppert é mera consequência do tipo de pessoa que ele é, e de como ele aprendeu a ganhar a dinheiro e viver a vida dele; mas que apesar disso havia algo mais que o prendia a ela. Ele percebia que ela se satisfazia bancando a dominadora, e arrumou um jeito de tirar proveito disso, mas ele também reconhecia uma identificação entre os dois, e isso despertava nele um fascínio –na cena mencionada acima ele está realmente impressionado com a perversidade da personagem de Huppert– e até um respeito por aquela mulher. O fascínio entre os dois personagens seria, portanto, mútuo, e não um artifício dele para alcançar um objetivo que se reduzia a interesses financeiros.




Gostei também do fato de Catherine Breillat –não vi nenhum de seus filmes anteriores, mas sei que seus trabalhos mais famosos são marcados por altas doses de erotismo– ter preservado a relação dos dois, mantendo uma alta carga de tensão sexual entre os dois, sem que nada de concreto se realizasse neste plano. Este detalhe, a meu ver, não pode se visto como secundário na trama. Primeiro porque Vilko(Kool Shen) é um personagem que ostenta uma agressividade sexual muito forte, e o fato de aparecer seminu em vários momentos do filme ressalta essa imagem. Segundo, porque falar de qualquer relação de dominação, e de personagens com instinto sádico, descartando o caráter sexual, seria um equívoco, e no filme não seria diferente. Por outro lado, a impossibilidade de realização deste desejo sexual, confirma o caráter da relação entre os
dois, e já está escancarada no próprio pôster(ou um dos pôsteres) do filme. A imagem reveladora mostra Vilko seminu ajudando a protagonista a descer uma escada, evidenciando o contraste entre o peitoral definido de um corpo em pleno vigor físico(e sexual) e a debilidade de um corpo excessivamente vestido de uma mulher que além de já sentir o peso da idade está ainda mais fragilizada por causa da hemiplegia. Não seria apropriado dizer que a personagem de Huppert estaria, por causa da doença, impossibilitada de fazer sexo, ou que Vilko se recusaria a fazer sexo com ela por se sentir constrangido com essa fragilidade. Mas parece muito apropriado afirmar, que Maud(Huppert), estava consciente desta “assimetria” entre os dois, que assumi-lo feria seu ego, e que, portanto, fazia parte do papel , que ela sentia necessidade de cumprir, recusar o sexo com um cara que ela (muito provavelmente) considerava sexualmente desejável; se essa relação sexual puder ser vista como um favor sexual dele para ela. Ou seja, ela já se sente suficientemente humilhada em ter que solicitá-lo para ajuda-la abrir a porta e a se levantar quando ela cair, para admitir que gostaria, além disso, de contar com ele para satisfação carnal, ou ainda para uma satisfação afetiva. Por isso repreende demonstrações mais explícitas de afeto(como um beijo), e o expulsa(literalmente) de sua cama.



Obs: Já depois de ter visto o filme e escrito o texto, descobri que a história deste filme nada mais é do que uma biografia da própria diretora Catherine Breillat, e de seu relacionamento com um golpista famoso chamado Christophe Rocancourt, que ela teria chamado para protagonizar um filme após ter sofrido um derrame que lhe tirou os movimentos do corpo. Recebi a informação com espanto, porque além de ter exigido um esforço psicológico muito grande ter protagonizado uma história dessas e conseguir transpor para as telas, não considero que a diretora tenha assumido uma posição favorável à protagonista, enfatizando o quanto ela foi vitima(o que seria mais propício e confortável para ela, mas tiraria a genialidade do filme).



A stroke-afflicted filmmaker is manipulated by a notorious con man.

'N beroerte-geteister filmmaker is misbruik deur 'n berugte con man.

Ein Schlaganfall-Betroffenen Filmemacher wird von einem notorischen Betrüger manipuliert.

ストローク苦しめ映画監督は、悪名高い詐欺師によって操作されている。

Director: Catherine Breillat
Writer: Catherine Breillat
Stars: Isabelle Huppert, Kool Shen, Laurence Ursino | See full cast and crew




Nenhum comentário:

Postar um comentário